Orquídea manteve a televisão ligada durante quase toda a noite de terça-feira. No ecrã repetia-se sem cessar um rosto que conhecia desde criança, o de Susana Gravato, a vereadora da Câmara Municipal de Vagos morta a tiro na própria casa durante essa tarde. A notícia deixou Gafanha da Vagueira, onde a advogada vivia desde os seis anos, em choque. As primeiras informações que iam chegando aos moradores e abrindo noticiários apontavam para a hipótese de um assalto violento, pela forma como a casa tinha sido revirada e um saco de dinheiro encontrado largado no chão. Mas esta quarta-feira de manhã, a Polícia Judiciária revelava que identificou o filho de 14 anos da vereadora por “fortes indícios da prática de um crime de homicídio qualificado”.

“Nada fazia prever este desfecho”, foram repetindo ao Observador vizinhos e amigos da vereadora, casada e mãe de dois filhos. Armindo, dono de uma loja de bicicletas próxima da casa da família, chegou a pensar que o crime podia ter sido um ato de vingança de alguém que pudesse ter sido representado por Susana Gravato, enquanto advogada. Outra moradora, que não quis ser identificada, mal conseguiu dormir na noite passada, a pensar que andaria um assassino à solta. E nenhum dos dois consegue compreender como o autor do crime pode ter sido o rapaz que todos descrevem como “educado”, “amoroso”, “muito bom para os avós”. “Ai nossa senhora, como é que o menino fez tal coisa?”, questiona também Orquídea, que recorda Susana Gravato como uma mãe carinhosa. “Ela é muito, muito boa pessoa”, sublinha. “Era”, força-se por corrigir.