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Segundo os resultados de um novo estudo, a doxiciclina, um antibiótico vulgarmente prescrito no tratamento de acne, pode diminuir o risco de esquizofrenia em adolescentes, sugerindo potencial para reafectação de antibióticos na prevenção de doenças mentais.
Um antibiótico amplamente utilizado poderá ajudar a reduzir as probabilidades de alguns jovens desenvolverem esquizofrenia, de acordo com um novo estudo, publicado na quarta-feira na American Journal of Psychiatry.
Os cientistas descobriram que os adolescentes a receber cuidados de saúde mental a quem foi prescrita a doxiciclina tinham uma probabilidade significativamente menor de desenvolver esquizofrenia mais tarde na vida do que aqueles tratados com outros antibióticos.
A doxiciclina, um antibiótico da classe das tetraciclinas, é amplamente prescrita para infecções bacterianas, incluindo doenças respiratórias e cutâneas, doenças sexualmente transmissíveis e certas formas de acne.
Os especialistas acreditam que os resultados sugerem uma potencial nova utilização para um medicamento existente e amplamente disponível como tratamento preventivo para doenças mentais graves.
Um outro estudo, publicado em dezembro de 2024, concluiu também que a doxiciclina pode melhorar a aprendizagem em jovens adultos.
Compreender a esquizofrenia e o seu início precoce
A esquizofrenia é uma perturbação mental grave que normalmente tem início no início da idade adulta e é frequentemente caracterizada por alucinações, delírios e pensamento desorganizado.
Encontrar formas de reduzir o risco de desenvolver esta condição tem sido há muito um grande desafio para os investigadores da saúde mental.
Para explorar possíveis estratégias de prevenção, uma equipa de cientistas da Universidade de Edimburgo, em colaboração com colegas da Universidade de Oulu e do University College Dublin, analisaram dados de cuidados de saúde da Finlândia utilizando modelos estatísticos avançados.
O estudo examinou registos de saúde de mais de 56.000 adolescentes que tinham recebido antibióticos enquanto frequentavam serviços de saúde mental.
Os pacientes tratados com doxiciclina apresentaram um risco 30 a 35% inferior de posteriormente desenvolverem esquizofrenia em comparação com os que receberam outros tipos de antibióticos.
A equipa de investigação acredita que este efeito protetor poderá estar relacionado com o impacto da doxiciclina na inflamação e no desenvolvimento cerebral.
Como a doxiciclina poderá proteger o cérebro
Estudos anteriores descobriram que a doxiciclina pode reduzir a inflamação nas células cerebrais e afetar a poda sináptica, um processo de desenvolvimento normal no qual o cérebro elimina e fortalece as conexões neuronais. Uma poda excessiva tem sido associada ao aparecimento da esquizofrenia.
Uma análise posterior confirmou que o risco reduzido não se devia simplesmente ao facto de os participantes estarem a ser tratados para acne em vez de infeções, e era improvável que resultasse de outras diferenças não detetadas entre os grupos.
“Cerca de metade das pessoas com esquizofrenia cujos dados analisámos tinham frequentado previamente serviços de saúde mental para crianças e adolescentes devido a outros problemas de saúde mental“, explica Ian Kelleher, professor de Psiquiatria da Infância e da Adolescência na Universidade de Edimburgo e autor principal do estudo, citado pelo Science Daily.
“Presentemente, porém, não dispomos de quaisquer intervenções que se saiba reduzirem o risco de vir a desenvolver esquizofrenia nestes jovens. Isso torna estas descobertas entusiasmantes“, acrescenta.
“Dado que o estudo foi de natureza observacional e não um ensaio clínico controlado e aleatorizado, significa que não podemos tirar conclusões definitivas sobre causalidade“, nota Kelleher.
“Mas este é um sinal importante para investigar mais aprofundadamente o efeito protetor da doxiciclina e de outros tratamentos anti-inflamatórios em doentes de psiquiatria adolescente como forma de potencialmente reduzir o risco de desenvolver doença mental grave na idade adulta”, conclui.