A Zara foi obrigada a remover imagens da sua loja online que mostravam modelos com “uma magreza doentia”, na sequência de uma sanção imposta pela Autoridade Reguladora da Publicidade britânica (ASA, na sigla original). De acordo com a decisão, as sombras da fotografia e o coque faziam a modelo parecer demasiado magra, enquanto noutra imagem a pose e o decote profundo evidenciam as clavículas da jovem manequim.
Não é a primeira vez que a Zara é sancionada pela ASA, em Dezembro de 2023, uma campanha fotografada pelo britânico Tim Walker, que trabalha para publicações com a Vogue, foi criticada e desencadeou apelos ao boicote da marca, pois as imagens pareciam remeter para o conflito em Gaza. Então, a empresa pediu desculpa pelo que classificou como um “mal-entendido”.
Agora, as imagem sancionadas foram apagadas do site, sendo que a ASA disse à Inditex que os anúncios “irresponsáveis” não deviam aparecer novamente na sua forma original, sendo substituídos por outros “preparados com maior responsabilidade”. A marca espanhola obedeceu, mas justificou que as duas modelos tinham atestado médico que comprovava estarem de boa saúde quando a sessão fotográfica decorreu. Até agora, as imagens não tinham sido alvo de queixas directas por parte dos consumidores, acrescentou. Mais: garantiu que nenhuma das fotografias foi modificada digitalmente, além de “pequenos ajustes de iluminação e coloração”.
O grupo espanhol defende seguir em todas as suas marcas as recomendações do estudo Fashioning a Healthy Future (Moldando um futuro saudável, em tradução livre), publicado em 2007 pela UK Model Health Inquiry e o British Fashion Council, que alertava para os perigos da magreza das modelos.
Anúncio da Zara
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Um dos anúncios da Zara mostra uma modelo com um pequeno vestido branco que evidencia as pernas magras e os ombros salientes que a fazem parecer “fora de proporção”, descreve a decisão da entidade reguladora. Na outra imagem em questão, a posição tornava as clavículas demasiado evidentes na principal “característica” da manequim.
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Outras marcas sancionadas
A ASA investigou ainda mais dois anúncios da Zara pelo mesmo motivo, mas nenhum deles foi retirado. Todavia, em Julho, a reguladora também tinha sancionado uma publicidade da Marks & Spencer pelo mesmo motivo, justificando que a pose da modelo e a escolha do coordenado — incluindo “sapatos pontiagudos” — realçavam “a magreza das suas pernas”, cita a BBC.
Noutro anúncio da Next, as imagens usadas para vender umas calças de ganga justas também chamavam atenção para a magreza da modelo. A marca recorreu da decisão, garantindo que a modelo, apesar de magra, tinha “um físico saudável e tonificado”, levantando uma questão em tom de queixa: por que motivo os anúncios com modelos obesas também não eram banidos, uma vez que também não promovem a saúde.
As preocupações com a magreza na indústria da moda sugiram no final dos anos 1990 quando foram conhecidos vários casos de anorexia entre modelos, que procuravam a inalcançável figura esguia e esbelta. O panorama mudou nos anos 2000 com uma maior abertura a diversidade na moda, surgindo a figura da modelo plus size ou com corpos “reais” — uma tendência alavancada pelas campanhas da Dove.
Contudo, recentemente, voltaram a surgir preocupações com a magreza na indústria, levando a directora editorial da Vogue britânica, Chioma Nnadi, a publicar um editorial onde se mostrava preocupada com o regresso da tendência, alavancada pela febre do Ozempic. “Estamos a ver muitas celebridades a usá-lo, e acho que há uma mudança na cultura em relação à maneira como pensamos sobre os nossos corpos e como os abordamos”, lamentou. E apelou: “É importante que todos os corpos sejam representados na moda.”