Uma em cada seis mulheres nos Estados Unidos tem depressão, segundo dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) baseados em pesquisas que abordaram diretamente as pessoas para saber como se sentiam e quais sintomas apresentavam. E esses novos estudos parecem confirmar o que muitos suspeitam: os sintomas da doença podem piorar logo antes da menstruação.

É chamado de exacerbação pré-menstrual (EPM) da depressão, e até 58% das pessoas com depressão que menstruam podem tê-la, sugerem estudos. “Pode ser que estejam experimentando uma piora pré-menstrual da tristeza depressiva, ou sentimentos de culpa ou inutilidade, ou perda de interesse ou prazer”, diz Jaclyn Ross, psicóloga clínica licenciada na Clínica de Distúrbios Pré-menstruais de Chicago.

Mais recentemente, um estudo publicado no BMJ Mental Health descobriu que as avaliações de humor eram mais baixas desde três dias antes até dois dias depois da menstruação em mulheres com depressão que monitoravam seus sintomas.

Como a EPM difere de outras condições pré-menstruais

A exacerbação pré-menstrual da depressão difere da TPM (tensão pré-menstrual), mais conhecida, que é caracterizada por sintomas físicos como dores, inchaço e cólicas, e sintomas emocionais como ansiedade e alterações de humor nos dias que antecedem a menstruação.

No entanto, tanto EPM quanto TPM entram no mesmo “guarda-chuva de sintomas emocionais pré-menstruais”, afirma Tory Eisenlohr-Moul, professora associada de psiquiatria e psicologia na University of Illinois Chicago College of Medicine e coautora de um estudo sobre EPM publicado em maio no Biological Psychiatry.

A EPM pode ser facilmente confundida com o TDPM (transtorno disfórico pré-menstrual), um distúrbio de humor que também pode causar sintomas de depressão, irritabilidade e raiva no meio do ciclo menstrual. O TDPM é mais estudado: em 2013, foi incluído no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5), o manual usado por clínicos para definir condições de saúde mental.

Segundo especialistas, a distinção mais importante não é tanto o tipo ou a gravidade dos sintomas (tanto EPM quanto TDPM podem ser severos), mas o que acontece durante a fase folicular do ciclo —que vai do primeiro dia do ciclo até a ovulação.

No TDPM, a pessoa provavelmente não apresenta sintomas depressivos durante essa fase folicular. Depois, “os sintomas ligam como um interruptor de luz” e, dentro de alguns dias da menstruação, “desligam como um interruptor de luz”, explica Ross.

Já a EPM “é mais como um botão de volume”, afirma ela. Como há uma condição pré-existente —neste caso, a depressão— “os sintomas estão presentes o tempo todo, mas aumentam”.

Não existem critérios diagnósticos oficiais para a EPM; pacientes são diagnosticadas e tratadas com base no transtorno subjacente. “Basicamente, o TDPM foi a alternativa mais limpa para criar o diagnóstico, mas sabemos que ainda temos muito trabalho para ser mais inclusivos para pessoas com padrões de sintomas mais complexos”, diz Eisenlohr-Moul.

Ao contrário do TDPM, a EPM “é mais difícil de perceber porque você também tem outros fatores de base ocorrendo”, diz ela. Uma pessoa pode ter TDPM e, eventualmente, desenvolver EPM crônica da depressão, ou até ter ambas as condições, ou sintomas que se assemelham à EPM, mas na verdade são outra coisa.

Todas

Reconhecer formalmente a EPM como uma condição separada ainda é debatido entre especialistas, mas sua inclusão poderia abrir mais opções de tratamento, aponta Eisenlohr-Moul.

Como saber se você tem EPM

Pessoas com outros diagnósticos psiquiátricos podem ter sintomas exacerbados pelo ciclo menstrual. É possível experimentar EPM “de praticamente qualquer transtorno de saúde mental”, diz Ross, incluindo transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares e transtorno de ansiedade generalizada.

Na EPM da depressão, os sintomas tendem a piorar durante a fase lútea, de sete a 14 dias antes do período, explica Eisenlohr-Moul.

Você pode se sentir intensamente triste, mais cansada ou retraída do que em outras fases do ciclo, segundo a International Association for Premenstrual Disorders (IAPMD), organização sem fins lucrativos que defende pessoas com condições pré-menstruais. Pensamentos de autoagressão e suicídio também podem aumentar nesse período.

Os sintomas geralmente retornam ao nível basal após a menstruação. O momento exato pode variar de mês para mês, “o que é muito frustrante para cientistas, clínicos e pacientes”, observa Ross.

Nem todas as mulheres com depressão apresentam piora dos sintomas antes da menstruação. Pesquisas mostram que os sintomas podem ocorrer mesmo tomando antidepressivos.

Um equívoco comum é pensar que a EPM é causada por desequilíbrios hormonais. “Na verdade, você tem uma sensibilidade cerebral anormal às flutuações hormonais normais do ciclo menstrual”, diz Ross. “A forma como penso é que seu cérebro é alérgico ao seu ciclo menstrual.”

O que você pode fazer

1. Monitore seus sintomas

Se a depressão parece piorar antes do período, registre diariamente como se sente durante dois ciclos menstruais para identificar padrões. Relatar sintomas de memória “nem sempre é confiável”, diz Kornstein, “por isso é necessário monitoramento diário prospectivo”. Eisenlohr-Moul recomenda baixar a planilha gratuita de monitoramento de sintomas disponível no site da IAPMD.

2. Procure um profissional que escute

Seu médico deve acreditar se você relatar depressão intensificada no período e ajudar a monitorar os sintomas para entender seu impacto. “Se um profissional te ignorar ou dispensar, encontre outro”, recomenda Eisenlohr-Moul.

3. Considere terapia

Ross recomenda terapia de aceitação e compromisso, terapia comportamental dialética ou terapia cognitivo-comportamental —todas podem ser úteis para gerenciar sintomas pré-menstruais. Idealmente, o terapeuta ajudará a adaptar estratégias de enfrentamento ao seu ciclo, para que você esteja mais preparada nos dias mais vulneráveis.

4. Pergunte sobre opções de medicação

Inibidores seletivos da recaptação de serotonina e pílulas anticoncepcionais contendo drospirenona ou etinilestradiol são aprovados para tratar TDPM, mas a EPM pode requerer abordagem diferente. Ainda assim, “o tratamento inicial para sintomas emocionais pré-menstruais são ISRS”, diz Ross, sendo um bom ponto de partida. Alguns clínicos podem aumentar a dose nos dias de sintomas mais intensos. Contraceptivos orais também “valem a pena ser explorados como opção de tratamento”, acrescenta.

5. Mantenha rotina nos dias bons

Sono, alimentação e exercícios não curam depressão, mas estabelecer hábitos positivos pode ajudar a lidar com dias mais difíceis. “Algo que ouço muito dos pacientes é que eles entram no modo ‘apodrecendo’ na cama”, diz Ross. “Talvez, quando me sinto bem na fase folicular, eu corra todo dia. Isso não vai acontecer na fase de sintomas altos, mas poderia fazer uma caminhada de 20 minutos?”

Catherine Monk, psicóloga clínica da Columbia University, sugere fazer uma lista de atividades calmantes que você gosta e tentar realizar pelo menos uma nos dias de sintomas intensos. “Não vai fazer você se sentir fantástica, mas pode ajudar.”

6. Estabeleça um plano de segurança

Nem todas as pessoas com TDPM ou EPM da depressão terão pensamentos de risco, mas estudos mostram que mulheres com distúrbios pré-menstruais podem ter maior risco de autoagressão. Em um estudo de 2024, pesquisadores observaram que o ciclo menstrual poderia agravar ideação e planejamento suicida em pacientes psiquiátricos. Se os sintomas ficarem graves, trabalhe com sua equipe médica para criar um plano de segurança.

O mais importante é que ninguém com depressão deve sofrer em silêncio. Seja depressão crônica que piora no período, ou que só aparece antes da menstruação, ajuda está disponível.

“Não queremos reforçar a ideia de que todas as mulheres têm TPM ou que todas as mulheres com depressão estão deprimidas por causa dos hormônios”, diz Eisenlohr-Moul. “Mas, se você é uma mulher com depressão, tem maior risco de alterações sensíveis aos hormônios, e faz sentido monitorar e ver se você é uma dessas pessoas.”