Há um novo tipo de intrometido em ascensão nos Estados Unidos, uma pessoa que acha que é normal soltar um “você está tomando Ozempic?” para aqueles que mal conhece. Isso provavelmente é um reflexo de quantos americanos estão tomando essa classe de medicamentos conhecidos como inibidores de GLP-1. Doze por cento dos adultos nos Estados Unidos já os tomaram em algum momento, de acordo com uma Pesquisa de Acompanhamento de Saúde da KFF de 2024, e as prescrições dispararam a cada ano na última década.
Essa classe de medicamentos inclui tirzepatida (nomes comerciais Zepbound e Mounjaro) e semaglutida (Wegovy e Ozempic), e conheço inúmeros amigos e colegas que tomam um deles. Eles têm sido salvadores para muitas pessoas com diabetes tipo 2 ou que desejam perder peso por razões médicas. Como acontece com outros medicamentos, como o Botox, alguns dilemas sociais espinhosos surgiram: é falta de educação perguntar se alguém está tomando um? E o que você diz se alguém lhe fizer essa pergunta?
(Revelação completa: recebi prescrição de um GLP-1 para um conjunto de condições médicas: pré-diabetes, resistência à insulina e doença cardiovascular.)
Conversei com dois médicos que prescrevem os medicamentos, dois conselheiros famosos e duas dezenas de usuários de GLP-1 para saber a opinião deles sobre as grandes questões de etiqueta em pauta. Eis o que aprendi.
É ok perguntar a alguém se está tomando um inibidor de GLP-1?
Dois anos atrás, reencontrei um ex-colega que havia perdido tanto peso que mal o reconheci. Minha primeira ideia foi: “ele teve câncer?” ou “havia algo errado?” Sorte a minha, ele me antecipou e confidenciou que estava usando Ozempic. Embora alguns daqueles que usam inibidores de GLP-1 digam que não se importam de ser perguntados, Randy Jones, um autor e apresentador de podcast, que atualmente toma um, me disse: “Eu absolutamente não acho que as pessoas devam se sentir autorizadas a perguntar a alguém sobre seus medicamentos sem um convite para fazê-lo.”
Lizzie Post, a tataraneta do guru de etiqueta Emily Post e copresidente do instituto que leva seu nome, concorda, explicando que os medicamentos que tomamos e os procedimentos que realizamos são privados. “Você não chega para um amigo e pergunta se ele está usando Botox”, diz ela.
Conclusão: Não pergunte, quase sempre. (E provavelmente é uma boa ideia evitar especular nas redes sociais sobre a misteriosa perda de peso de celebridades também. É praticamente um esporte para algumas pessoas, mas isso não torna okay.)
Mas eu quero mostrar que me importo. Isso não é uma boa razão?
Na verdade, não. O contexto importa, e você pode não ter todos os detalhes para navegar nessa conversa complicada sem ser ofensivo. Uma amiga minha, pastora que está diante de uma grande congregação todo domingo, perdeu 23,5 quilos (52 libras) em nove meses. Ela diz que foi perguntada por praticamente todo mundo, em um momento ou outro, como perdeu peso.
Embora ela aprecie os bem-intencionados que dizem: “você está ótima! Você se sente bem?”, ela também preferiria que as pessoas não fizessem tanto caso disso. Por exemplo, algumas pessoas parecem compelidas a comentar sobre o corpo dela toda vez que a veem. “Você está comprando um guarda-roupa totalmente novo?” “Você ficou tão pequenininha.” Isso a irrita porque “não gosto que o tamanho do meu corpo seja a coisa mais interessante sobre mim aos olhos delas”.
David Wiss, um nutricionista dietista registrado sediado em Los Angeles que aconselha pacientes sobre questões de peso e saúde mental, diz que recomenda evitar “conversas sobre o corpo” de qualquer tipo. “A soberania corporal descreve a liberdade e a autonomia para fazer escolhas sobre o próprio corpo e saúde”, disse ele.
Carolyn Hax, a conselheira de longa data do The Washington Post, diz que se você está apenas sendo intrometido, não há uma boa maneira de perguntar. Mas se você mesmo lutou com o peso ou conhece alguém bem o suficiente para acreditar que pode perguntar sem ofender, formule sua pergunta dessa maneira. Caso contrário, Hax sugere: “ee as pessoas parecem bem, parecem felizes, estão ótimas com aquela cor, então, por favor, diga isso.” Mas não comente sobre seus corpos.
Conclusão: como eu sempre disse, se é a curiosidade que está te impulsionando, contenha-a.
Como devo responder se alguém me fizer essa pergunta?
Matt Hughes, um comissário municipal de Hillsborough, Carolina do Norte, me disse que hesita em divulgar o uso de um GLP-1 porque “é quase como se alguém tivesse se esforçado menos para perder o peso”, disse ele. Mesmo que essa não seja sua intenção, perguntar às pessoas se estão tomando um GLP-1 pode ser confundido com “vergonha do Ozempic” (Ozempic shaming), que é quando as pessoas são criticadas ou julgadas por tomar um medicamento para perder peso em vez de confiar na dieta e exercícios, mesmo que mudanças no estilo de vida não funcionem para a grande maioria das pessoas.
“O estigma do peso está profundamente enraizado e é quase inconsciente”, disse Caroline Apovian, codiretora do Centro de Gerenciamento de Peso e Bem-Estar do Hospital Brigham and Women’s. Ela me lembrou que os GLP-1s são tratamentos para condições médicas —assim como aqueles para pressão alta, câncer ou qualquer outra coisa— o que pode capacitar aqueles que desejam responder a consultas intrusivas sendo diretos, humorísticos ou apenas desviando a pergunta.
Algumas respostas rápidas que ouvi incluem:
“Não é da sua conta.”
“Gosto de manter um pouco de mistério.”
“Quem quer saber?”
E minha favorita pessoal: “Meu peso realmente não é tão interessante.”
Conclusão: Isso não é da conta de ninguém além de você, e você não precisa discutir suas prescrições com ninguém além do seu médico.
Existem novas regras para jantares ou para dividir a conta de um restaurante?
Pessoas que começam a tomar GLP-1s geralmente experimentam grandes mudanças no apetite ou têm efeitos colaterais como náusea, o que pode limitar o quanto elas querem comer. Algumas pessoas descobrem que estão menos interessadas em beber álcool também.
Isso significa que em situações sociais você pode não conseguir comer ou beber como costumava. Se você estiver jantando na casa de um amigo e não puder comer tanto quanto antes, um simples “não, obrigado” deve ser suficiente —e um anfitrião atencioso não pressionará o assunto.
Ao jantar fora, há o velho dilema de dividir a conta: “eu só comi uma salada, você comeu um bife.” Ou, “Eu não bebo álcool, e você tomou três coquetéis.” Quando alguém está comendo porções menores ou menos pratos, dividir uma conta pode ser ainda mais difícil. Hax lembra às pessoas “que sejam conscientes da justiça e não se escondam atrás da conveniência para fazer os ‘veganos sóbrios em dieta’ pagarem por seu champanhe e lagosta”.
Ela também sugere “ler a sala”, o que significa que às vezes você pode pedir contas separadas, ou levar metade da sua refeição para casa, e às vezes você simplesmente paga a mais, pelo prazer da companhia de todos.
Post também tem algumas estratégias específicas, como dizer aos amigos com quem você janta regularmente: “Ei pessoal, estou comendo muito menos ultimamente. Tudo bem se eu pagar minha própria conta?” Ou oferecer-se para usar aplicativos de divisão de conta como Billr ou Divvy para que todos os comensais paguem o que devem.
Cuide-se
Quando eu recebo, comecei a perguntar aos convidados não apenas se têm alguma alergia ou preferência alimentar, mas também: “Há mais alguma coisa que eu preciso saber para preparar o jantar?” Isso permite espaço para alguém me informar que está tomando um GLP-1, ou simplesmente que só consegue comer certas quantidades ou tipos de comida atualmente. Por essa razão, também estou inclinado a servir no estilo buffet, deixando todos decidirem quanto querem em seus pratos.
Conclusão: Esteja preparado para comunicar suas necessidades com antecedência e não busque detalhes se os hábitos alimentares de um amigo mudarem. Eu mesmo já enfrentei muitas perguntas bem-intencionadas, mas intrusivas, e por isso sorri quando Hax me disse: “pena que não existe um GLP-1 para a ignorância.”