Damien Fair/X
Mike chorou de alegria depois de receber o implante.
Paciente de 44 anos deixou de ter pensamentos suicidas. Ao fim de nove meses, atingiu o estado de remissão. Melhoria mantém-se há dois anos e meio. Eis como funciona este novo “pacemaker cerebral”.
É descrito como um “pacemaker para o cérebro” e acaba de fazer história no cérebro de um homem de 44 anos.
O paciente, que sofria de depressão desde os 13 anos, afirma ter sentido alegria pela primeira vez em mais de 30 anos.
Ao longo dos anos, foi submetido a mais de 20 tratamentos, incluindo antidepressivos, psicoterapia e eletroconvulsivoterapia (ECT). Nenhum trouxe melhorias duradouras, avança a New Scientist. A sua condição levou-o a três tentativas de suicídio.
Mas tudo passa, e a esperança chegou finalmente pelas mãos de investigadores da Universidade do Minnesota que, liderados pelo neurocientista Damien Fair, conceberam um implante cerebral personalizado capaz de estimular várias áreas do cérebro.
Ao contrário de métodos tradicionais, como a ECT, que atuam sempre na mesma zona independentemente do paciente, esta abordagem tem em conta as diferenças individuais na estrutura e funcionamento cerebral. Isto porque, explica Fair, “todos os cérebros são diferentes”.
Numa primeira fase, a equipa recorreu a ressonâncias magnéticas para mapear quatro redes cerebrais associadas à depressão. Descobriram que a rede da saliência, responsável pelo processamento de estímulos internos e externos, era invulgarmente grande no paciente — cerca de quatro vezes superior ao habitual em cérebros saudáveis, o que pode ter contribuído para a persistência dos sintomas.
Com base neste mapeamento, os cirurgiões implantaram quatro conjuntos de elétrodos em diferentes pontos do cérebro, através de pequenas perfurações no crânio. Inicialmente, estes elétrodos foram ligados a fios externos que enviavam impulsos elétricos suaves, estimulando cada rede de forma isolada.
As respostas foram imediatas. Quando a rede do modo padrão, associada à introspeção e à ruminação, foi estimulada, o paciente desatou a chorar de alegria. A estimulação da rede do modo de ação e da rede da saliência gerou sensações de calma, enquanto a ativação da rede frontoparietal melhorou a concentração e a tomada de decisões.
I still get chills
Meet Mike
*30+ years severe depression
*first hospitalized @ 13y
*20 meds
*3 rounds of ECT
*2 near-fatal suicide attemptsMike felt joy for the first time in decades after we turned on his new brain pacemaker or PACE
see paper, threadhttps://t.co/8bdB2pXxQa pic.twitter.com/5B3Cxbgvsn
— Damien Fair (@DrDamienFair) August 10, 2025
Chocada com os resultados surpreendentes, a equipa ligou os elétrodos a duas pequenas baterias implantadas debaixo da clavícula do paciente. Funcionam como um “pacemaker cerebral”, ao estimular diferentes áreas do cérebro durante um minuto, a cada cinco minutos, ao longo do dia.
O paciente recebeu ainda uma aplicação que lhe permitia alternar entre diferentes padrões de estimulação e registar diariamente os seus sintomas. Ao longo de vários meses, os investigadores ajustaram os parâmetros com base neste registo clínico.
A transformação foi rápida. Sete semanas após a cirurgia, o paciente deixou de reportar pensamentos suicidas. Ao fim de nove meses, atingiu o estado de remissão, segundo a escala de avaliação da depressão de Hamilton. A melhoria mantém-se há mais de dois anos e meio, apenas com um ligeiro retrocesso quando contraiu covid-19.
Os investigadores acreditam que o tamanho anormal da rede da saliência poderá ter desempenhado um papel decisivo na resposta positiva do paciente, mas ainda é cedo para saber se pessoas com características cerebrais diferentes beneficiarão da mesma forma. Serão necessários ensaios clínicos de maior escala para avaliar a segurança e eficácia do método.
Outra vantagem deste novo procedimento é que exigiu menos recursos computacionais e uma estadia hospitalar mais curta.