Em decisão publicada na quarta-feira (20), a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) divulgou parecer contrário para a incorporação dos medicamentos semaglutida (Wegovy) e liraglutida (Saxenda), ambos da farmacêutica Novo Nordisk, no SUS (Sistema Único de Saúde).
A semaglutida, na dosagem 2,4 mg semanal, foi submetida para tratamento de pacientes com obesidade grau 2 e 2, sem diabetes, com idade a partir de 45 anos e com doença cardiovascular estabelecida. Já a liraglutida, 3 mg uma vez ao dia, foi avaliada para o tratamento de pacientes com obesidade e diabetes tipo 2.
Apesar de reconhecer a semaglutida 2,4 mg (Wegovy) como uma tecnologia inovadora, a decisão foi pautada principalmente por restrições orçamentárias e fiscais, segundo diz a farmacêutica em nota à imprensa. Segundo os relatórios do Ministério da Saúde sobre os medicamentos, o custo anual estimado por paciente representaria um impacto significativo: R$ 9.885,60 para a liraglutida e R$ 17.584,80 para a semaglutida.
Em cinco anos, o custo da semaglutida foi calculado em um gasto de R$ 6,4 bilhões para o SUS, e R$ 9,8 bilhões para liraglutida. A Novo Nordisk cita em nota também que o parecer negativo se deve ao “histórico subfinanciamento do SUS”, somado ao “contexto de desequilíbrio fiscal, restrições orçamentárias e obsolescência dos mecanismos de incorporação vigentes”.
A empresa afirmou compreender que tais desafios impedem a oferta de tecnologias inovadoras, “mesmo quando estas são evidentemente custo-efetivas”, e reafirmou seu compromisso em atuar como parceira estratégica no combate à obesidade no Brasil.
Em entrevista à Folha durante um congresso de diabetes em Chicago, Martin Holst Lange, vice-presidente executivo da Novo Nordisk, defendeu uma abordagem multifocal para a doença. “A forma como pensamos em obesidade é que é uma doença complexa; diferentes pacientes terão diferentes necessidades”, declarou.
Lange destacou que o foco do tratamento não deve ser apenas a perda de peso, mas sim a redução de complicações graves. “A semaglutida proporciona 20% de redução no risco de eventos cardiovasculares”, completou, enfatizando o benefício do medicamento para pacientes com comorbidades que podem ser fatais.
A decisão mantém os medicamentos fora do escopo de tratamentos oferecidos pelo SUS, restringindo o acesso a pacientes que podem custeá-los no mercado privado.
Como perspectiva futura, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) anunciou na última semana acordo com a farmacêutica EMS para produção nacional de liraglutida e semaglutida. A empresa, inclusive, já está comercializando as canetas Olire (obesidade) e Lirux (diabetes) no mercado brasileiro, e a produção nacional pode reduzir os custos.
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