O suicídio é, entre os jovens europeus entre os 15 e os 19 anos, a segunda principal causa de morte prematura. Em Portugal há, em média, três suicídios por dia.
Mas o suicídio nem sempre é o que se concretiza — ele pode ser passivo, lento, como um deixar de estar vivo. No Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que se assinala esta quarta-feira, a psicóloga Sara Almeida, co-fundadora da Escola do Sentir, explica o que é o suicídio passivo e como o enfrentar.
O que é o suicídio passivo?
Não é propriamente procurar morrer, mas antes não querer viver. É um “desligar da vida”. Manifesta-se pela “falta de autocuidado, de medidas preventivas em termos de saúde ou adopção de comportamentos destrutivos”, começa por enquadrar a psicóloga Sara Almeida.
Consumir exageradamente drogas ou outras substâncias, conduzir a altas velocidades, deixar de ir ao médico ou fazer tratamentos (em caso de doença), são alguns dos comportamentos que pessoas em situação de suicídio passivo podem adoptar.
Ainda que não haja, geralmente e “de forma consciente”, uma intenção de estes comportamentos nocivos levarem à morte, há um pensamento que diz algo como: “Se cá não estivesse era igual.” Essa “desvitalização” pode levar, efectivamente, à morte.
Quando é que alguém pode entrar em situação de suicídio passivo?
A psicóloga explica que, na maioria dos casos, pessoas que estão nesta situação inserem-se em quadros de depressão ou outro tipo de patologias mentais. Mas Sara Almeida realça que tanto a ideação suicida como o suicídio passivo tendem a acontecer quando “as relações à nossa volta começam a não parecer suficientes, quando não há acolhimento ou compreensão emocional”.
É que, muitas vezes, apesar de os familiares e amigos se esforçarem, “a pessoa que está a viver esta dor e solidão não tem essa percepção” e sente-se numa “solidão profunda”. “São as relações que nos prendem à vida e que nos motivam a permanecermos e a alcançarmos objectivos”, afiança a psicóloga.
Quais os pensamentos (e sentimentos) mais comuns?
“Estou desamparado, não sou compreendido por ninguém, se morrer não tem mal, ninguém se vai importar”: estes são alguns dos pensamentos mais comuns.
Há também um sentimento de “falta de amor-próprio e das relações mais importantes”. “Isto é algo ‘injusto’ para quem está perto destas pessoas, porque muitas vezes a família esforça-se, mas a pessoa não consegue ter essa percepção da realidade, porque tem uma percepção muito distorcida”, explica a psicóloga.
Sinto-me assim. O que devo fazer?
A primeira coisa a fazer é procurar um profissional de saúde mental. Mas nem sempre há motivação para isso.
Se essa força não existir, Sara Almeida aconselha a uma “expressão emocional”. “Se me apetece chorar, vou-me permitir chorar. Se preciso de falar com alguém, vou ligar a alguém da minha confiança e desabafar. Ou pelo menos vou sentir a presença daquela pessoa, mesmo que não fale. Quando estamos desvitalizados, precisamos de nos expressar, as emoções precisam de sair.”
Se essa pessoa de confiança não existir, há linhas de apoio e prevenção ao suicídio às quais se pode recorrer.
Tenho um amigo ou familiar que se sente assim. O que devo fazer?
“A primeira coisa é mostrar àquela pessoa que estamos aqui. A presença e a relação vão fazer com que a pessoa perceba que alguém se importa e que, então, talvez valha a pena”, refere a psicóloga.
Coisas simples como “ouvir atentamente, sem fazer qualquer julgamento, mesmo que aquela dor nos pareça completamente desligada da realidade”. Enquanto escutamos, “a pessoa sente-se validada”.
Depois da escuta activa, pode ser importante partir para uma abordagem mais prática: sugerir um psiquiatra, um psicólogo ou um grupo de apoio. “No fundo, primeiro estabelecemos relação, para depois abrir a porta para uma rede de ajuda, seja ela qual for.”