O Outubro Rosa de 2025 trouxe uma novidade para a política de saúde pública no Brasil: mulheres de 40 a 49 anos agora têm acesso garantido à mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio do Ministério da Saúde amplia o alcance do exame, mas especialistas lembram que a mudança ainda não configura um programa de rastreamento organizado, modelo considerado mais eficaz na redução da mortalidade por câncer de mama.

Segundo a mastologista Maira Caleffi, chefe do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento e presidente-fundadora da Femama, o País segue sem um sistema ativo que convoque as mulheres para o exame de forma regular. “Hoje o rastreamento no Brasil é oportunístico: depende da iniciativa da paciente. Um programa verdadeiro exige busca ativa, indicadores e encaminhamento rápido quando há suspeita, como já ocorre em países como Canadá e Inglaterra”, afirmou no podcast Fala 50+.

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A médica reforça que o anúncio recente não alterou a recomendação oficial do governo, que continua priorizando mulheres de 50 a 74 anos a cada dois anos. A novidade está no acesso garantido: mulheres de 40 a 49 anos que procurarem o SUS agora têm direito ao exame de mamografia, o que antes dependia da disponibilidade de cada município. “É um passo, mas ainda insuficiente. Precisamos que a mulher seja chamada, e não que tenha que insistir para conseguir se cuidar”, completa Caleffi.

Câncer de mama: principal causa de morte

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados 73,6 mil novos casos de câncer de mama a cada ano no Brasil, entre 2023 e 2025. Apesar dos avanços em diagnóstico e tratamento, a doença segue como a principal causa de morte por câncer entre mulheres no país.

Para Caleffi, a prioridade deve ser a criação de um fluxo rápido entre diagnóstico e tratamento. “Ainda vemos muitas brasileiras perdendo a vida por mortes evitáveis. Um programa com busca ativa e fast track para biópsia e cirurgia é o caminho para mudar essa realidade.”

Outubro Rosa 2025 foca em prevenção e detecção precoce

Durante a abertura oficial do Outubro Rosa 2025, o Inca lançou a publicação Controle do câncer de mama no Brasil: dados e números 2025, que reúne informações atualizadas para orientar gestores e apoiar políticas públicas de redução da mortalidade. Com o tema “Mulher: seu corpo, sua vida”, a campanha deste ano destaca a importância da prevenção primária, do autocuidado e da detecção precoce, integrando ações para câncer de mama e de colo do útero.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, em mensagem destaca que a mobilização coloca as mulheres em primeiro plano: “Nosso foco é a prevenção e a detecção precoce. A partir do conceito ‘Mulher: seu corpo, sua vida’, reforçamos a autonomia feminina no cuidado com a saúde”. Já a coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, Márcia Sarpa, defendeu que políticas públicas priorizem o empoderamento das mulheres, garantindo informação e ferramentas para que possam se proteger melhor.

Essa perspectiva de equidade também está no centro do estudo Mantus – Mulheres Negras e Câncer de Mama Triplo Negativo: Desafios e Soluções para o SUS, coordenado pela pesquisadora Sheila Coelho Soares Lima, do Inca. A pesquisa busca compreender por que mulheres negras têm mais risco de desenvolver o subtipo triplo negativo, o mais agressivo do câncer de mama, associando fatores genéticos, sociais e ambientais. Com quase mil pacientes avaliadas na fase piloto, o estudo reforça que reduzir desigualdades raciais é parte essencial da prevenção e do diagnóstico precoce — especialmente em um País onde 76% dos usuários do SUS são negros.

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