Dados divulgados na quinta-feira (7) pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) sugerem que os americanos estão consumindo um pouco menos de calorias de alimentos ultraprocessados em comparação com anos anteriores, mas especialistas em nutrição alertam que essa redução está longe de ser uma vitória para a saúde pública.
Ainda assim, mais da metade das calorias diárias consumidas pelos americanos vem de alimentos ultraprocessados, definidos como aqueles produzidos por métodos industriais ou com ingredientes —como xarope de milho com alto teor de frutose ou óleos hidrogenados— que normalmente não são encontrados em cozinhas domésticas.
Os novos dados mostraram que, em média, 53% das calorias consumidas diariamente por adultos entre 2021 e 2023 eram de alimentos ultraprocessados. Esse percentual caiu em relação à média de 56% entre 2017 e 2018. Para crianças e adolescentes até 18 anos, o índice foi de cerca de 62% —uma queda em relação aos 66%.
Os números vêm do mais recente Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição (NHANES), realizado pelo CDC desde a década de 1960 para coletar informações sobre a saúde e a dieta dos americanos. Este é o primeiro relatório do CDC sobre o consumo de alimentos ultraprocessados, disse Anne M. Williams, pesquisadora de nutrição da agência e autora principal do estudo.
O relatório surge enquanto o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., tem alertado para os perigos dos alimentos ultraprocessados, um dos principais temas de seu movimento “Make America Healthy Again” (Torne a América Saudável Novamente, na tradução).
Como os novos dados abrangem apenas os hábitos alimentares dos americanos até 2023, eles não refletem as mensagens mais recentes do movimento MAHA sobre alimentos ultraprocessados.
Filippa Juul, pesquisadora de saúde pública nutricional da SUNY Downstate Health Sciences University, em Nova York, observa que os alimentos ultraprocessados já estavam em evidência antes do atual governo. Em 2019, um estudo pioneiro dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) mostrou que esses alimentos levam ao consumo excessivo. Outras pesquisas os vinculam a condições como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas.
A leve queda no consumo pode significar que as pessoas estão mais conscientes dos malefícios desses alimentos, disse Juul, mas ainda não há informações suficientes para confirmar essa hipótese.
Para Julia Wolfson, professora associada de saúde internacional da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (que não participou do relatório), os dados são um “sinal promissor”, mas não indicam que os americanos possam “declarar vitória” sobre os ultraprocessados.
Entre todas as faixas etárias analisadas, sanduíches (incluindo hambúrgueres) foram a categoria que mais contribuiu para o total de calorias diárias. Produtos de padaria doces, salgadinhos e bebidas açucaradas —frequentemente apontados como os principais impulsionadores da obesidade e de doenças crônicas— também tiveram participação significativa.
Adultos com renda familiar mais alta consumiram um pouco menos calorias de ultraprocessados do que aqueles com renda mais baixa, e pessoas com 60 anos ou mais consumiram menos do que adultos jovens e crianças. Josiemer Mattei, professora de nutrição da Harvard T.H. Chan School of Public Health (que não esteve envolvida no estudo), disse que isso não é surpreendente, já que as empresas tendem a direcionar marketing agressivo de ultraprocessados para crianças e famílias de baixa renda.
Barry M. Popkin, professor de nutrição da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (também não envolvido no relatório), criticou a pequena amostra do estudo —apenas 4.881 adultos e 1.752 crianças— e o fato de os dados dependerem de autorrelatos, método muitas vezes impreciso.
Ainda assim, muitos pesquisadores consideram o NHANES a fonte mais representativa e robusta sobre a dieta dos americanos, disse Wolfson.
Popkin ressaltou que o declínio no consumo pode ser insignificante —equivalente a apenas 60 calorias a menos por dia em uma dieta de 2.000 calorias, ou um punhado de batatas fritas.
Especialistas afirmam que ainda não está claro se os dados indicam uma tendência maior. Serão necessários anos até que o próximo relatório do NHANES ajude a responder essa pergunta.
Cuide-se
Para Wolfson, a principal mensagem do CDC não é a pequena queda, mas sim o fato de que os americanos ainda comem muitos ultraprocessados.
“Ainda há muito trabalho a ser feito”, disse ela. “Para todos nós, mas especialmente para os jovens.”
Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.