Nos últimos anos, os rótulos zero açúcar, zero gordura, zero lactose invadiram o dia a dia de milhares de pessoas que buscam der peso e melhor qualidade de vida. Mas será mesmo que alimentos “ZERO” agregam benefícios?
A endocrinologista Lorena Lima Amato alerta que olhar apenas o selo da embalagem pode induzir a escolhas pouco equilibradas. “zero não é sinônimo de saudável e, embora a substituição possa oferecer perda de peso inicial para quem consome muito refrigerante, a estratégia não se sustenta sozinha”, conta.
Quais são os efeitos a longo prazo do consumo de bebidas zero açúcar no metabolismo e no controle de peso?
Lorena Lima Amato: Não há recomendação formal para substituir amplamente bebidas açucaradas por versões “zero”. Essa troca pode gerar uma perda de peso modesta no curto prazo, sobretudo em quem consome grandes volumes de refrigerantes, porque poupa calorias. Mas o efeito tende a não ser sustentado isoladamente.
A meta, a longo prazo, é mudar hábitos: priorizar água como bebida principal e evitar o consumo frequente de ultraprocessados “zero”, ricos em adoçantes e aditivos.
Alimentos zero gordura são realmente saudáveis ou podem ter outros componentes prejudiciais?
Lorena: “Zero” não é sinônimo de saudável. Um refrigerante zero, por exemplo, pode ter zero calorias e ainda assim não ser saudável. Um produto pode ser zero gordura, mas trazer alto teor de açúcar; ou zero açúcar, porém carregado de corantes, conservantes e outros aditivos. Portanto, é essencial olhar a composição como um todo.
Como os adoçantes artificiais em bebidas zero afetam a regulação do açúcar no sangue?
Lorena: No curto prazo, eles não elevam a glicose nem provocam picos glicêmicos, inclusive em pessoas com diabetes. É por isso que muitas vezes são usados na estratégia inicial de reduzir açúcar.
Ainda assim, o ideal é que sejam um apoio pontual dentro de um plano alimentar equilibrado, e não uma licença para aumentar o consumo de bebidas ultraprocessadas.
Existem diferenças significativas entre os vários tipos de adoçantes artificiais usados em produtos zero?
Lorena: Sim. O aspartame é um adoçante totalmente artificial e é contraindicado em situações específicas, como na fenilcetonúria, doença genética hereditária que impede o corpo de metabolizar a fenilalanina, um aminoácido presente em alimentos ricos em proteínas.
Já a estévia tem origem vegetal e costuma ser encarada como uma alternativa “menos pior”, embora também deva ser usada com moderação. Cada substância tem perfil, potência de dulçor e evidências diferentes — por isso, o tipo do adoçante faz diferença.
Como os alimentos zero açúcar podem afetar a saciedade e o controle do apetite?
Lorena: Há extrapolações sugerindo que o consumo de algo muito doce e sem calorias poderia aumentar o apetite depois, mas isso ainda precisa ser melhor demonstrado. De modo geral, o efeito sobre a saciedade tende a ser neutro. O que pesa mais para controlar o apetite são alimentos in natura, fibras, proteínas e o contexto da refeição, não apenas trocar açúcar por adoçante.
Quais são as recomendações para o consumo diário de bebidas e alimentos zero para pessoas com diabetes ou pré-diabetes?
Lorena: Existem limites de ingestão diária aceitável para adoçantes, e eles costumam ser altos e difíceis de alcançar no dia a dia. A substituição de bebidas açucaradas por versões zero pode ajudar no início, mas é preciso evitar a “compensação”: tomar o refrigerante zero e, na mesma refeição, aumentar o carboidrato. O foco deve ser qualidade da dieta, fracionamento adequado, hidratação e redução gradual da necessidade do sabor excessivamente doce.
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Os produtos zero lactose são benéficos para todos ou apenas para pessoas com intolerância à lactose?
Lorena: Eles são indicados basicamente para quem tem intolerância à lactose. Para quem tolera bem, não há vantagem específica em preferi-los. O importante, nesses casos, é avaliar o conjunto nutricional do alimento lácteo escolhido.
Como os alimentos zero gordura afetam os níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue?
Lorena: É uma questão mais complexa do que o rótulo sugere. Um produto pode ser zero gordura e, ao mesmo tempo, muito rico em carboidrato, o que impacta triglicerídeos e, indiretamente, o metabolismo do colesterol. Em geral, vale priorizar gorduras de boa qualidade em quantidades adequadas — por exemplo, de castanhas, azeite e peixes — e analisar cada alimento pela composição total, não só pelo “zero”.